1.
Há muito tempo não me acontecia de ter um capilar rompido na esclera do olho. Essa foi a temática de um poema que agora está no livro Inventário, poema também sobre os espelhos pendurados na rua Cardeal Arcoverde em Pinheiros, lembrado pela minha querida Daniele John recentemente em suas redes. Essa história virou até prosa no livro Errância, inicialmente como conto, publicado na revista inglesa de literatura latino-americana inglesa Ventana Latina. Essa ruptura que causa o um pequeno lago de sangue contido no olho era algo comum nos meus anos de doutorado, talvez o excesso de leitura (livros, manuscritos, traduções) e vida mais desregulada. O fato é que desde que me mudei para Islândia nunca mais havia acontecido. Mas na manhã após minha palestra na pós-graduação da USP, acordei com o olho esquerdo levemente encharcado de vermelho, o sangue já bastante absorvido, a esclera amarelada.
Passou quase uma semana desde que comecei a escrever essa cartinha, uma semana e meia acho. No meio tempo fui atropelada pela vida com suas demandas que em grande parte se resumem aos cuidados com o filho e o desenrolar de uma mudança, a finalização de um artigo e a organização de uma nova vida. Então vou corrigindo o tempo das coisas, preservando outras partes do texto.
Há uma semana participei de uma aula na pós-graduação da USP falando sobre minha pesquisa de doutorado e em especial de um recorte específico da relação de Giuseppe Ungaretti com as artes plásticas e como isso transparece em suas missivas dedicadas a Bruna Bianco. Foi minha primeira atividade desde que me tornei pós-doutoranda na instituição, fiquei muito feliz pois fui acolhida pela amiga Valentina Cantori que é agora professora do departamento de italiano nesta instituição. Foi um encontro bonito e a preparação para a palestra não foi fácil pois tive que abrir algumas caixinhas que havia fechado, alguns nós emocionais ligados a uma longa pesquisa e todas suas desavenças. Tive que reler minha tese e um ensaio que estou extraindo dela, fui colhendo algumas repetições entediantes e traços marcados por aquele academiquês enfadonho, mas também fui observando um trabalho tão meticuloso e atento, um bater fontes com ensaios antigos de Ungaretti, fontes secundárias, organização de manuscrito… e pensei “mas eu realmente fiz tudo isso? Como é que consegui fazer tudo isso?”. Bom, por um lado eu ainda não era mãe e esse tipo de entrega passional para um objeto não tinha nenhum empecilho, nenhum rival, nem interno nem externo. Por outro, acho que é de fato o produto de um primeiro grande apaixonamento intelectual, desses que requer um grande fôlego e que, segundo o professor Moacyr Novaes (que estava na plateia assistindo!) só acontece uma vez na vida. Tive que me haver com essa primeira grande paixão novamente.
2.
Comecei tão bem intencionada essa cartinha, (toda trabalhada na paixão despertada pela preparação da aula e seus desdobramentos) , separei um curta-metragem que me tocou muitíssimo da autora finlandesa Heta Jäälinoja e que está na curadoria da MUBI para comentar. Mas enquanto elaborava esses pensamentos mais sensíveis no trânsito entre a casa e a escolinha do Andri, entre a escolinha e a USP, entre a USP e o mercado, entre o mercado e o metrô, entre o metrô e a casa de novo… fui atingida por uma onda anômala chamada vida. Algo que lembra uma onda real que uma vez me carregou numa praia do Rio de Janeiro e me cuspiu na orla da praia sem a parte de baixo do biquíni (que não sei como parou no joelho) a parte de cima na cabeça e uma quantidade de areia que fui eliminando ao longo de um mês dos meus cabelos. Naquela época eu era jovem o suficiente para não saber que aquela metáfora seria a jornada de Sísifo se repetindo semana sim semana não na minha vida (na minha, e de tantas pessoas). Depois desse acidente chamado vida, meus pensamentos foram se dissolvendo, perdendo o contorno bonito e ordenado atento aos detalhes da animação finlandesa, na minha confusão fui me assemelhando cada vez mais a uma qualquer personagem de Elena Ferrante que está prestes a abandonar a família. Talvez o acontecimento-onda, o acontecimento-vida, seja a sequência de interrupções em que preciso abandonar minha capacidade de pensar de forma mais profunda impelindo-me a agir. É a primeira vez que o Andri passa tantos dias longe do pai, em todas as outras ocasiões tínhamos essa vida azeitada islandesa, na qual tudo acontecia com muita facilidade (tirando às vezes a inclemência atmosférica). Em cinco minutos chegávamos em qualquer canto, eu conseguia colocá-lo para dormir com certa velocidade e ainda tinha uma cabeça funcional para ler ou escrever algo, no meu parco tempo entre os trabalhos que fazia conseguia ir ao mercado e agilizar nosso jantar e ainda lavar as roupas. Tudo isso é impossível e utópico morando em São Paulo. Para seguir o meu desejo mais profundo ( voltar para minha língua e em especial voltar a trabalhar na minha área, viver do trabalho literário, editorial e acadêmico) fiz uma troca: entreguei o pacote da vida-azeitada e me joguei na fogueira dos deslocamentos quilométricos sem carro, nas subidas das escadarias e ribanceiras, nesse espaço de fricções que é São Paulo.
Quando estava grávida, ainda em Reykjavík, participei de uma antologia de poesia organizada pela Natasha Stolyarova com um texto que havia escrito antes de engravidar, esse poema está no meu livro Inventário e fala sobre a estranheza de não ter uma língua, fala um pouco da troca por uma vida conhecida por outra incompreensível, mas que apontava em direção a um desejo (a maternidade). A imagem central é a da vespa que deixa seus ovos no figo, perde duas asas e enfim fecunda a fruta que se torna assim como a conhecemos. Lembro-me de uma conversa que rolou entre outros autores que compunham o livro, uma das escritoras comentou em seu texto como havia dado sua vida em troca pela vida do filho. Havia deixado seu trabalho, sua carreira, etc. para poder viver num país mais seguro. A troca era entre Estados Unidos e Islândia. Esse escambo lhe provocava bastante desconforto e conflito, mas havia aí uma certeza moral de que a escolha era acertada. Eu, bem o avesso disso, talvez uma mãe-vilã de história em quadrinhos, ou uma mãe às avessas, sai do conforto gelado islandês, da segurança, dos deslocamentos de cinco minutos e me joguei no frenesí paulistano carregando as duas pessoas que mais amo na vida. Tenho ciência dos riscos que corremos (às vezes esqueço um pouco para poder viver). Na correria e nos longos deslocamentos preciso ir inventando conversas para distraí-lo do desconforto. Fiz um pouco o contrário do que fez a outra escritora. Senti que era insustentável levar uma vida mais funcional na qual eu me tornava cada vez menor, mais distante do meu desejo, mais encaixada numa retórica da escritora estrangeira, assumindo trabalhos que tipicamente ninguém naquela sociedade quer fazer. Nenhuma decisão nos livra da ambivalência dos sentimentos. Essa semana o Luciano está em Reykjavík a trabalho (como tradutor literário do Sjón num grande festival literário) e estou morrendo de saudades dele, mas também daquelas ruas limpas, daquele silêncio absurdo, das casinhas coloridas, do meu carro… dos meus amigos tão amados. Talvez não tenha muita saudade da alienação dos europeus, isso não.
A felicidade é fugidia, mas a alegria (e também a angústia e a tristeza) chega quando apostamos nessa coisa também fugidia que é o desejo. Sentir-se vivo é desencaixar-se das linearidades. O desejo me levou para o cucuruto do mundo e lá a paixão se transformou em algo muito mais complexo e duro (às vezes) que é o amor. Essa sensação da mistura que leva a uma outra vida (terceira vida) que é um filho, uma diluição do nosso ser em outra pessoa, não só no filho, mas na pessoa amada. A ponto de sentir essa semana que São Paulo já não era tão minha como antes. Claro, continua sendo a minha cidade (por eleição), mas desde que o Luciano também mora aqui ela também é dele. Ele foi cultivando curiosidade e cuidado pelo bairro e por todos os bairros daqui até o final da linha verde do metrô em direção a zona oeste. Isso foi germinando. Eu não consigo mais entrar no Carrefour sem pensar nele. Estou lá fazendo compras essas semana, lidando com a geladeira queimada, com a saudade que o Andri manifesta do pai e percebo que as ruas já não são só minhas. Já tenho saudades do Luciano aqui, já não é mais só um “quero te levar pra cá e pra lá para apresentar minha cidade”. Já viramos outra coisa. Talvez ele sinta o mesmo esses dias andando por Reykjavík. Talvez ela, a cidade, também tenha se transformado a partir do nosso encontro e do que criamos por lá.
3.
A parte mais difícil da vida que arrebata nossos planos é (talvez) a falta de horas contínuas de sono. Andri dorme muito bem a há bastante tempo, portanto meu corpo cansado já se acostumou a dormir à noite toda, aquela coisa de acordar de madrugada é uma lembrança tão distante que, quando acontece de ser acordada assim, torno-me ainda mais disfuncional, irritada, com pouca capacidade para pensar. Mas dentro desse incômodo há uma coisa muito bonita: a conversa. Aconteceu que demorou um ou dois dias para ele de fato entender que o pai estava na Islândia e que demoraria alguns dias para voltar. Foi numa dessas madrugadas que ele sonhou que o Lu corria muito para não perder o avião e que na correria ele caía e machucava muito seu braço (talvez o quebrasse, pela descrição). O que o Andri ainda está aprendendo é identificar o que é um sonho. Acordou bem preocupado e eram, pasmem, 4:30 da matina. Saímos do quarto e nos sentamos no sofá, conversamos até ele ficar mais tranquilo. Disse que o sonho era como um filme que assistimos, como um desenho animado, como a toupeirinha (se você é um leitor mais antigo, deve ter ouvido falar do desenho tcheco que é favorito do meu filho), mas que assistimos enquanto dormimos, de olhos fechados. Mas são cenas imaginárias. O papai está bem. Já já vamos falar com o papai e você vai ver que ele está bem, que ele não se machucou. Conversou algumas vezes com o pai durante o dia e mesmo assim passou mais dois dias relatando o sonho. Aos poucos parece que entendeu o que é um sonho. Hoje antes de dormir olhou pra mim e disse “eu sonhei que o papai fez áæ, mas o papai não fez áæ” (a onomatopaica islandesa para dizer dodói que se pronuncia aui).
Na sexta-feira voltando para casa de metrô acompanhado também pela avó materna que está aqui visitando e nos amparando nesses dias, comentei com ela algo assim “sinto que ele terá mais ferramentas crescendo num lugar como São Paulo”, e aí fomos interrompidas pelo próprio que respondeu “Que é isso mamãe, ferramenta? Andri é muito pequeno e ferramenta é muito grande, Andri não consegue”. Ainda oscilando entre usar o pronome pessoal e se chamar em terceira pessoa, caímos na risada por essa compreensão tão concreta da palavra. De fato, ele é pequeno para tantas ferramentas. Ele sabe muito bem o que são as ferramentas que usamos para consertar coisas em casa, ou as que observa na rua no dia a dia dos trabalhadores. Talvez também demore para entender o peso do sonho sonhado na madrugada, os restos do dia, e os sonhos sonhados com os olhos abertos durante as manhãs, os sonhos que se misturam aos desejos. Nesses momentos aquela personagem da Ferrante que habita em mim (e em muitas de vocês, mães leitoras) aquela que quer abandonar a família, sossega, se emocionada e pensa que vale a pena qualquer onda anômala com nome próprio que me arranque dos meus próprios pensamentos e da minha escrita, pois chega dando resposta, chega inspirando e insuflando sentido na existência. Todos os dias quando voltamos de metrô eu sinto isso, quem conduz quem? Sou a mãe atenta que ensina e cuida, mas passo o tempo inteiro sentindo-me conduzida por sua curiosidade, suas observações.
4.
Não vou deixar de terminar essa cartinha sem um aceno sobre o curta-metragem que me conquistou. Vocês ainda podem assistir no MUBI. São tantos fragmentos bonitos que não sei por onde começar, também não quero dar spoiler de um vídeo de onze minutos. Mas quero dizer que me senti muito tocada pela dissonância das vozes do coro das freirinhas quando cada uma percebe algo sobre seu desejo, sobre um assombramento, sobre uma amarra, algo que está por baixo da roupa de freira (não chama batina né?), por debaixo da túnica. Cada uma carrega algo inexoravelmente singular e sonoro: um choro, pequenos fogos (me fez pensar na palavra islandesa eldarnir que também se usa para erupções vulcânicas, lobos uivantes, trapezistas). Alguns poeminhas foram nascendo em inglês ao assistir ao curta:
*
Bells tolling, cicadas — morning shows its face. A woman licks a window pane: the sun is pulled from its orbit. What is dissonance, resonance if not a fallen petal we stumbled upon? * I pulled you from an underground rock of memory: before time unwinded from its original ball of yarn, before memory itself, before language. I looked inside the darkness, a shell folded like petals. Can’t remember the color of your eyes. * What catches me when I fall? Beside a waterfall a tulip opens its mouth — red and wide it sucks me in head first. * What unspoken things do we carry under our skin? A flock of arctic stern? Stars and planets? Minor eruptions, lava fields or cascades? Silenced landscapes peek through our eyes.
5.
Por último, um momento jabá: saiu uma matéria no Estadão sobre a Islândia e eu e o Luciano estamos em destaque como tradutores do livro que sairá agora em maio pela editora Zain Os peixes também sabem cantar do prêmio Nobel Halldór Laxness. Fiquem ligados porque o lançamento será na Livraria da Tarde e queremos muito ver vocês por lá. Saiu também a entrevista que dei para o jornal Islandês Morgun Blaðið sobre meu inventário islandês, Eignatal, e teve uma repercussão bem legal. Vou deixar por aqui as perguntas que faltavam em português (uma parte já havia sido publicada numa cartinha anterior), mas como várias pessoas me pediram uma tradução, pensei que seria mais fácil colocar por aqui o texto.Boas leituras!
Segðu mér aðeins frá dvöl þinni á Íslandi – Hvað bjóstu hér lengi? Hvers vegna fluttirðu hingað? Hvað varstu að gera hér? Hvernig var upplifunin af landi og þjóð?
Me conte um pouco sobre a tua residência aqui na Islândia – Quanto tempo moraste aqui? Por que te mudaste para cá? O que fizeste nesse período? Como foi a tua vivência do país e dos islandeses?
Morei cinco anos e meio na Islândia, é bastante tempo e ao mesmo tempo também não é muito. Me mudei para a Islândia por amor, pois conheci o meu companheiro Luciano Dutra no Brasil, num festival literário importante no qual eu me apresentava numa programação paralela ao palco principal e ele estava acompanhando o escritor Sjón. Eu já era fã do Sjón desde suas letras para as músicas de Björk (que iluminaram minha adolescência quando cresci em Kuala Lumpur, na Malásia) até a poesia e sua relação especial com o surrealismo. Comprei o livro traduzido pelo Luciano e acabei conhecendo-o durante o festival através de uma amiga em comum. De início achava impossível me mudar para a Islândia, pois a minha vida era muito enraizada no Brasil, mais especificamente em São Paulo. Passamos dois anos vivendo um relacionamento à distância até que, após defender minha tese de doutorado, decidi me mudar para Reykjavík e viver um amor presencial. Junto ao amor havia também a tensão política que se vivia no Brasil durante o governo de Bolsonaro. Era um período assustador e eu não conseguia enxergar uma perspectiva em permanecer em meu país. Tem um poema no livro em que relato essa experiência. Nos meus anos na Islândia, estudei islandês em alguns cursos livres e também durante um ano e meio na Universidade da Islândia, no bacharelado em Islandês como segunda língua. Continuei trabalhando como tradutora literária entre o Brasil e a Itália, me envolvendo com projetos literários com a Bókmenntaborg e fazendo muitos amigos nesse ambiente, como o fantástico grupo do Reykjavík Poetics. Também trabalhei por um ano e meio numa leikskóli, foi um trabalho muito duro mas que me ensinou muitas coisas sobre a infância, sobre direitos trabalhistas e também foi onde conheci pessoas muito especiais de várias partes do mundo – Ucrânia, Nigéria, Índia e, claro, Islândia. Também dei aulas de italiano e português no Endurmenntun Háskólans e de islandês para falantes de língua espanhola na escola Múltí Kúltí (talvez o trabalho mais divertido que tive!).
Sinto que minha vivência na Islândia foi verdadeira, com aspectos muito positivos e outros negativos, talvez ambivalentes. Vivi coisas extraordinárias, como por exemplo ter uma gravidez e um parto humanizado perfeito e justo, algo que poucos países oferecem às mulheres. Já me considerava uma feminista, mas na Islândia conheci outro patamar de luta pelos direitos das mulheres (e também sua interseccionalidade), o respeito pelos direitos da população LGBTQIA+, os amplos direitos trabalhistas e o trabalho dos sindicatos que ainda têm uma grande importância na Islândia apesar de já ter perdido essa relevância em tantos outros países. Teci amizades profundas que vou carregar para sempre na minha vida. Também senti muita solidão. Sofri de depressão sazonal durante o último inverno. Tentei dar continuidade à minha carreira acadêmica e consegui apenas em parte, e esse foi o principal motivo que me levou a deixar a Islândia. Aceitei uma proposta de trabalho de pesquisa de pós-doutorado e ensino na Universidade de São Paulo, minha alma mater. Minha vivência com os islandeses sempre foi em geral positiva, em todos esses anos não sofri nenhum episódio de preconceito, pelo contrário, sempre me senti muito bem tratada e acolhida. Mas talvez eu tenha sentido falta de tecer relações mais íntimas com os islandeses. Não só relações cordiais, mas amizades íntimas que suportam inclusive nossos lados mais obscuros. Claro que teci algumas relações assim, mas batalhei muito para ter essas pessoas na minha vida.
Þú hefur verið virkur þátttakandi í samfélagi skálda sem búsett eru á Íslandi en eru af erlendu bergi brotin. Hvernig hefur verið að taka þátt í því starfi?
Participaste de maneira ativa da comunidade de escritores de origem estrangeira residentes aqui na Islândia. Como foi participar dessa comunidade?
Preciso dizer que me senti muito acolhida pela comunidade de escritores em geral na Islândia, não só pelos estrangeiros, mas também pelos escritores e poetas islandeses, talvez isso tenha sido facilitado pelo meu interesse em ler e entender suas palavras, por isso me dediquei à tradução da poesia contemporânea islandesa, em especial a poesia escrita por mulheres. Algumas poetas islandesas também foram imprescindíveis e acolhedoras comigo, em especial Fríða Ísberg, Ragheiður Harpa, Brynja Hjálmsdóttir, Ásta Fanney Sigurðardóttir, Sigurbjörg Þrastardóttir.
Porém, com a comunidade de escritores estrangeiro, criei uma forma de irmandade, devo tudo isso com certeza à generosidade de Ewa Marcinek, mas também a Elías Knorr, que organizaram minha primeira leitura em Reykjavík junto a Ásta Fanney, assim que cheguei em 2019. Depois, com o tempo, fui convidada por Natasha Stolyarova para participar da antologia Pólífónía, em seguida também de Skáldreki, antologia de ensaios organizada por ela e Ewa Marcinek. Mais tarde surgiu, também pelas mãos da Ewa, o evento Reykjavík Poetics, do qual primeiro participei como curadora convidada e depois como membro do conselho. Contamos com o apoio generoso da Cidade Literária da Unesco e com um interlocutor muito especial na pessoa do Kjartan Már Ómarsson. Nesse grupo, conheci pessoas que se tornaram meus grandes amigos em Reykjavík, como por exemplo o poeta Gabriel Dunsmith e Christopher Marcatili (que recentemente voltou a morar na Austrália). Também participo do grupo Ós Pressan, onde conheci Anna Valdís, Lara Hoffmann, Angela Rawlings e Mao Álheimsdóttir, nesse momento estamos editando o próximo número da revista. É uma comunidade muito unida e variada, espero poder continuar contribuindo com ela mesmo à distância.
Maðurinn þinn þýðir íslenskar bækur á portúgölsku. Hefur íslenska tungan lengi spilað stórt hlutverk á heimilinu? Ég sá til dæmis að sonur ykkar heitir íslensku nafni.
O teu marido traduz literatura islandesa para o português. A língua islandesa tem um papel importante no lar de vocês? P.ex., vi que o nome do filho de vocês é islandês.
Sim! Luciano é um grande tradutor de literatura islandesa e nórdica em geral. Ele tem uma grande coleção de literatura islandesa e nórdica, em especial poesia e muitos dicionários, então sempre foi uma fonte inesgotável para mim ter acesso a esses livros e às nossas conversas sobre a literatura islandesa. Eu tento aprender com ele! Nosso filho tem nome islandês, ele é islandês, nasceu na Islândia e o pai também é cidadão islandês. Andri Bjartur começou a aprender simultaneamente islandês e português, começando a falar islandês na escola e português conosco em casa. Também gosto muito de ouvir música islandesa, gosto muito do cinema islandês. Agora que estaremos no Brasil, tenho o sonho de realizar um festival de cultura islandesa no Brasil, em São Paulo, trazendo cineastas, artistas plásticos e escritores para criar uma ponte entre nossas culturas.
Er það ekki rétt að þú sért að flytja burt? Hvert ertu að fara? Og hvað tekur við þar?
É verdade que estás te mudando da Islândia? Para onde? E o que vais fazer lá?
Sim! Acabamos de chegar no Brasil há poucos dias. Como disse acima, fui selecionada para uma vaga de pesquisadora e docente na Universidade de São Paulo. Tenho um contrato de três anos prorrogável por mais dois. Nesse período, vou me dedicar à tradução do romance Aracoeli, da romancista italiana Elsa Morante, além de outros livros dela. Também darei alguns cursos na Universidade de São Paulo. Minha pesquisa já começou e a docência começa no próximo semestre, quando darei um curso sobre Elsa Morante e Natalia Ginzburg juntamente com a professora Lucia Wataghin. Continuamos sentindo que a Islândia também é nossa casa, continuamos mantendo uma casa e inúmeros afetos na Islândia, esperamos voltar de férias nessa temporada em que estarei trabalhando em São Paulo, mas também, como disse, levar um pouco da Islândia para o Brasil através de traduções e festivais, quero muito aproximar esses meus países.
Um poema
HVALFANG
Mynd þinni snúið til veggjar
þar sem þú brosir eins og sá
sem rænt hefur brennandi bát
úr ljóði konu
og siglt á brott
í baki mínu skutull
skorðaður milli rifja.
BALEAÇÃO
De costas na parede o teu retrato
no qual sorris igual alguém
que roubou um barco em chamas
de um poema escrito por uma mulher
e nele fugiu
nas minhas costas um arpão
preso entre as costelas.
[Gerður Kristný tradução Luciano Dutra]
Ciao!, la densità del racconto mi ha portata dentro ad un vortice come se avessi potuto partecipare per un tempo lunghissimo e corto alla tua dinamica vita. I contrasti che hanno un prezzo ma che possono anche aiutare come il potersi allontanare per un periodo dell'inferno di Bolsonaro. Me la immagino l'Islanda verde e muschiosa , calda e fredda. Una terra in cui ci si stringe per rafforzare un'identità nordica lontana dalle frenesie. Andri incamera molte cose e mi fa pensare alla bambina che volevo essere...salivo persino nel carro della vecchina che col suo asinello passava a vender verdura e me ne sarei andata via con lei . Dopo duecento metri mia madre mi veniva a recuperare. La Ferrante che pur ha avuto un successo mondiale mi è piaciuta all'inizio finché ha tolto il velo ad una Napoli che conosco bene , poi mi è parso un infinito copione che attorciglia le storie ed ho abbandonata. Forse è questa Napoli così infelice che mi pare vera ma stereotipata. Elsa Morante è una grande ma bisogna leggere molto altro per metterla dentro ad un contesto. Natalia è molto amata. ho conosciuto a roma la figlia . Una famiglia storica ....sono contenta che lavori su di lei , una donna straordinaria . Qui in Italia le cose non vanno molto bene, per chi credeva e per chi no (come me) Francesco è stato un punto di riferimento . La parte antifascista sta rievocando gli 80 anni dalla liberazione con molti eventi e storie di donne fin ora ignorate . Chiudo con un'espressione che potrebbe essere più familiare per Andri, invece che ferramenta ...cassetta degli attrezzi ...forse è più leggera ...parabens
Eu tô há um tempo querendo te escrever pra perguntar como andam as coisas na tua chegada, querendo saber se o Brasil tá te tratando direitinho, se a cidade tá sendo minimamente gentil contigo. Isso porque consigo imaginar o baque de sair da Islândia pra SP, ainda que seja tua terra natal. Pois encontrei aqui um pouquinho das respostas e muito mais. Que coisa linda um filho que aprende o que é um sonho. Deve valer acordar no meio da noite pra testemunhar isso. E que surpresinha boa encontrar meu nome ali, na cartinha, que é, na verdade, uma cartona❤️